Nós de Pano
"Nós de pano - ensaios de desmemória" é um solo da palhaça e artesã Shirley Britto, integrante do grupo carioca Teatro de Anônimo, que existe há 37 anos no Rio de Janeiro. A concepção se desenvolveu a partir das materialidades e da história da boneca negra Abayomi, criada pela artesã maranhense Lena Martins, quando atuava como animadora cultural no CIEP Luiz Carlos Prestes, na zona oeste do Rio de Janeiro.
O contexto histórico é o das lutas e mobilizações dos movimentos negros e os amplos debates nacionais que antecederam o centenário da Abolição e a promulgação da Constituição em 1988. No início deste século, surgiu uma narrativa falsa para a criação das bonecas que passou a circular na internet. Sem fontes documentais que corroborem esta versão e sem pesquisas históricas e historiográficas que a legitimem, esta narrativa se espalhou por várias cidades brasileiras, com diversas pessoas oferecendo oficinas de confecção destas bonecas, sendo veiculada também em livros didáticos para o ensino fundamental.
A pesquisa para o espetáculo, além de trabalhar dramaturgicamente sobre as materialidades (tecidos, técnicas, figuras, etc), instiga o debate acerca das recomposições e atualizações de narrativas históricas com seus projetos políticos implicados, discute invisibilidade, lacunas e propõe observar a forma como fatos relacionados à escravidão vêm sendo abordados na cena contemporânea. O figurino, como o cenário, se inspira na própria Abayomi, feita apenas de malhas coloridas moldadas com uma técnica artesanal, sem uso de cola, linha ou agulha, apenas com amarrações manuais no tecido. Quando o público entra, as cadeiras estão em círculo e no meio dele já está montado o cenário: um tapete redondo de retalhos coloridos.
Enquanto desfia sua história, a atriz cria relações com a plateia e, com a ajuda dela, desmonta e remonta o cenário. A participação do público – não a participação constrangedora do espectador isolado, mas a participação em conjunto de todo o grupo presente – fornece à atriz acompanhamento musical e narrativo. A atriz canta, conta e trabalha em parceria com a audiência. Ao longo do espetáculo, o tapete de tecido vai sendo manuseado, toma formas diversas e sentidos inesperados.
O espetáculo se circunscreve dentro deste círculo de cadeiras, com apenas uma saída da atriz que, na preparação da parte final da história, passa entre os espectadores. A iluminação, branca com suave quentura, se limita a uma geral deste espaço e alguns focos. A trilha é executada por uma sonoplasta, que está posicionada no círculo das cadeiras. A música utiliza tanto a reprodução gravada, com uso de laptop e uma única e pequena caixa (também colocada na roda) e instrumentos musicais tocados ao vivo. As músicas são originais e compostas para o espetáculo.
Ficha técnica:
DRAMATURGIA E ENCENAÇÃO – Shirley Britto, Rosyane Trotta, Adriana Schneider, Cátia Costa
ATUAÇÃO – SHIRLEY BRITTO
DIREÇÃO – ADRIANA SCHNEIDER
TEXTO – ROSYANE TROTTA
DIREÇÃO DE MOVIMENTO - CÁTIA COSTA
PREPARAÇÃO VOCAL - LETÍCIA CARVALHO
DIREÇÃO E EXECUÇÃO MUSICAL - BEÀ AYÒÓLA
DIREÇÃO DE ARTE - CARLA FERRAZ
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO - DAMIANA INÊS
CRIAÇÃO DE LUZ - LARA CUNHA
Necessidades técnicas:
30 cadeiras ou mais, para forma uma roda de mais ou menos 6 metros de diâmetro
tomada de energia ou extensão próxima à roda de cadeiras . Caixas de Som adequada ao espaço. Luz básica , com foco na roda com cores quentes