Cão chupando manga

‘’Cão Chupando Manga” mistura teatro, circo, dança e artes plásticas num jogo poético sustentado pela técnica da palhaçaria e pela arte da bufonaria. A cena é alimentada pelas reflexões de um artista que, envelhecendo, se compara a um vira lata que atravessa as ruas sem pressa, observando pessoas e cheirando coisas, mas que se coloca em prontidão, quando vê ameaçada sua dignidade. O performer Fábio Freitas, integrante do grupo Teatro de Anônimo, sob o olhar de Sidnei Cruz, estabelece uma divertida e intensa conversa com a plateia, partindo de suas lembranças e outras histórias ficcionais, que procuram provocar sensações e reflexões acerca de nossas humanidades, abraçando os bichos que nós também somos. Através de suas insônias, provocadas por um cão que nunca para de latir, o ator se movimenta na busca do silêncio, do alívio, do descanso, mas nessa busca o que consegue é produzir ainda mais barulho. E nesse transe temas urgentes e necessários atravessam o movimento desse picadeiro, desse terreiro, dessa encruzilhada. É um espetáculo “ritual” onde se evoca o afeto, vibrando as vezes no coração do palhaço, noutras vezes no estômago do bufão!!!! 

A estética do espetáculo é pensada na utilização de aproximadamente 13 mil tampas de garrafas de cerveja. Figurinos e alguns objetos de cena foram criados com esses materiais para instaurar a atmosfera da rua, habitat natural dos vira-latas, humanos e animais, dos bufões, dos andarilhos, dos marginalizados. Cão Chupando Manga é um exercício que trata o artista como um animal em extinção, que atravessa os tempos produzindo humanidades e animosidades. É uma reflexão sobre 30 anos de carreira de um trabalhador da cultura, sobre sobrevivência, desafios e encontros. Sobre artistas e sobre arte. Sobre Risos e latidos... 

 

O teatro, através de poderosos arquétipos, nos ajuda a olhar para nossa realidade, não só nos convocando pro enfrentamento dela, mas também nos convidando a trabalhar por mudança, através do lúdico, da poética, do extraordinário. Em o Cão Chupando Manga o arquétipo do bufão, o elemento provocador, se inspira em Diógenes, o Cínico, que vivia pelas ruas da Grécia como um cão (cínico em latim), dormindo num barril, ou andando de costas, ao contrário dos outros. O filosofo, durante o dia, jogava uma lanterna nos passantes procurando a verdadeira humanidade. Essa busca continua sendo muito necessária nesses dias barulhentos, e essa pergunta precisa ser feita por quem pensa com o estômago, como o arquétipo Bufo. Onde está a humanidade? O performer aqui brinca de ser esse cínico, esse cachorro maltratado que, por estar envelhecendo, não mete medo em ninguém, mas que se recusa a calar a boca. Esse cão, brasileiro, misturado, mostra seus dentes pros nossos racismos, nossos preconceitos, nossas injustiças e desigualdades. O artista Fábio Freitas não tem "pedigree", é a mistura de preto com branca, suburbano e seus latidos em cena contam algumas histórias ficcionais, mas narram também a trajetória de trinta anos de carreira e cinquenta de sobrevivência dessa espécie.

O outro arquétipo fundamental da cena, o palhaço, assume a condição do vira-lata, do idiota feliz que se movimenta na busca de ser amado, de acolher e ser acolhido, aquele que não tem vergonha, nem posses, nem certezas, que atravessa a cena abanado o rabinho e fazendo festa por que continua acreditando na humanidade. 

 

Ficha técnica

-Projeto, dramaturgia e performance: Fábio Freitas

-Encenação e espaço cenográfico: Sidnei Cruz

-Trilha sonora sampler, operação de Luz, de som e contrarregragem: Ivam Cruz

-Figurino, adereços e máscara: Fábio Freitas

-Costura: Edvalda Moura Figurinos

-Supervisão de figurino e arte: Patrícia Muniz

-Iluminação: Guiga Ensa

-Direção de movimento: Maria Angélica Gomes

-Trilha sonora: Ivam Cruz

-Fragmentos Musicais: Beá Ayòóla e José Agrippino de Paula

-Programação visual: Hannah23

-Redes sociais: Ivam Cruz

Realização: Teatro de Anônimo

Parceria: Rádio Assuna, Muda Outras Economias e Fundição Progresso

Necessidades técnicas:

A cena do espetáculo Cão Chupando Manga acontece num piso vermelho medindo 6 metros de diâmetro. O cenário, além desse piso,  se limita a três pontos fixados em varas de cenário sobre esse círculo,  para sustentação e maquinária de 03 objetos leves. Fora isso são utilizados somente adereços e figurinos, colocados na cena sobre esse piso.

 

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